segunda-feira, 2 de agosto de 2010

Cotidiano.

A manhã apareceu e com ela, a garota acordou. Após 3 semanas mal dormidas, foi a primeira vez que teve uma boa noite de sono. As coisas deviam estar melhorando. Deixou a preguiça de lado e foi escovar os dentes, olhou-se no espelho e foi para cozinha. Eram somente 6:00 AM ela ainda tinha duas horas até ir pro trabalho. Comeu uma pêra, embora não fosse sua fruta preferida era a única que tinha ali. Fez uma nota mental de ir ao supermercado o mais rápido possível; calçou uma pantufa e foi até a padaria mais distante.

As ruas não estavam tão vazias quanto esperava: algumas senhoras caminhando pela pracinha que ficava em frente ao prédio que morava e alguns senhores jogando xadrez. Ela não sabia jogar xadrez; quem sabe algum dia, quando tivesse 60 e poucos anos, já não tivesse aprendido?! Também viu algumas mães com seus bebês passeando para que seus filhos recebessem sua dose diária de vitamina D. Talvez algum dia fosse mãe e chamaria ela, ou ele, de Madalena ou Gustavo. Sorriu com a idéia.

Chegou à padaria e pediu o de sempre: quatro pães "francês" e dois pães "doce". Olhou para o lado e viu seu vizinho de frente. Sorriu, ele sorriu de volta. Sentiu algo gelado em seus pés e olhou pra baixo: viu um cachorro cheirando-a. Era o buldogue do vizinho, já tinha os visto passeando.
O vizinho riu e disse: “Ele gostou de você”. Ela deu um sorrisinho nervoso e respondeu olhando pra baixo com uma feição engraçada: “Acho que até demais”. O olhar dele seguiu o dela e ele viu que o seu cachorro tinha feito suas necessidades no pé da moça. Ficou vermelho e disse: “Bob! NÃO!” e tirou o cachorro de perto dela. Ela riu e disse: “Não tem problema. Mas, Bob? Por que Bob?” E ele respondeu: “É Bob de Bob-ão” Ela riu com gosto da piadinha tosca dele, pegou seu pão e pagou; ele repetindo o ritual em seguida.

Saiu da padaria com ele, conversaram durante todo o caminho, sobre Bob, tempo, música, profissões, comida e tantas outras coisas. Ela descobriu que ele gostava de ler, adorava torta de maçã, não gostava muito de festas e era veterinário. Ela o contou que tinha passado no primeiro vestibular, que sempre quisera ter um cachorro e que era muito desastrada. Disse também que gostava do interior porque lá as estrelas parecem ser mais brilhantes e que acreditava em astrologia e ele disse que gostava de desenhar e de Beatles.

E assim o caminho acabou, ele sempre com um sorriso no rosto. Quando chegaram na rua em que moravam, ela perguntou por que ele estava sorrindo tanto. Ele respondeu que a partir do momento em que a viu entrar na padaria sabia que gostaria de conhecê-la. Ela ficou sem graça e ele a beijou. Com os olhos arregalados ela não soube o que fazer nesse momento. Só correspondeu. Por incrível que pareça, tudo ficou cinza e eles eram os únicos presentes na rua toda. Eles e Bob, é claro. Foi um beijo terno e significativo. Nada que parecesse com último capítulo de telenovela, e sim algo que simplesmente dizia o quanto eles gostariam que tudo aquilo fosse exatamente do mesmo jeito se acontecesse novamente.

Separaram-se, sorriram. Incrível como certos sentimentos fazem tudo parecer melhor. Nada mais precisava ser dito.

2 comentários:

  1. você realmente deveria parar de me deixar viciada nesses posts, sabe ? '-'

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  2. Oooh, que história mais encantadora! Sorri muito lendo, adorei, adorei! *-*

    Beijos, Érika!

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