domingo, 27 de outubro de 2013

Tempo de escrever.

Ando assim ,
como se fosse demais
pra caber
dentro de mim

Mais parece o movimento
dos ponteiros do relógio
marcando o tempo
que faz que não escrevo

Esse desconforto,
Sentimentos
sou eu cheia de preenchimento
pra papel em branco

Sensação
que mais parece
duas placas tectônicas
em movimento

Como um vulcão
expelindo lava,
eu vomito palavras
pra ficar bem.

sábado, 28 de setembro de 2013

Preto e quente ou Mnemotécnicas da dor

Ela pegou a xícara da pia sem segurar na asa. No segundo seguinte, largou no susto e a viu quicando no chão com o impacto. Não quebrou, mas rachou. A mão ficou vermelha. O café se espalhou lentamente pelo piso formando dedos compridos de gotas e foi parar debaixo da geladeira. Iria dar trabalho pra secar.

Colocou a mão debaixo da torneira aberta pra aliviar a queimadura. Enquanto a água corria por entre seus dedos, os pensamentos voltavam pra quando tudo começou. Os sons, as luzes e a batida inebriante que se misturavam com a fumaça dos cigarros ao redor. O show foi inesquecível, mas não pela música. A maior parte das lembranças que ela tinha desse sábado de setembro tinha relação direta com Ele. Sejam as lembranças boas ou as ruins.

Catou a xícara do chão, pegou um pano, abaixou-se e limpou. Pegou outra xícara, pegou o bule e colocou mais café. Ela é do tipo que não desiste na primeira derrota. Dessa vez, segurando a xícara pela asa, levou a porcelana aos lábios entreabertos. Desnorteada pelo ardor na mão, queimou a língua. Incrível como uma coisa que machucara há pouco é tão facilmente esquecida. Como se nem tivesse acontecido.

Isso de esquecer fácil já nasce com o ser humano. Desde crianças somos apresentados a esse método de superação. Você cai da escada, sua mãe assopra seu machucado, mas depois de 10 minutos de choramingar, você volta pro topo da escada. Parece que as lembranças ruins são voláteis, enquanto que as boas grudam como solda no seu cérebro.

Ela nem se dá conta e do nada, as lembranças que mantém tão escondidas no fundo da sua alma invadem seus pensamentos. Ah, seus pensamentos... Se fossem só eles. O cheiro do perfume e de cerveja, o contato do abraço, dos lábios contra a bochecha, da barba contra a pele. É como se seu corpo necessitasse do contato.

Mas, apesar da existência desse novo contato tão necessário, o desenrolar do enredo é exatamente igual ao anterior. Com lembranças ruins. E ao que Nietzsche disse: “apenas o que não cessa de causar dor é que fica na memória”, ela rebate com: o que fica na memória é o que te faz bem, as lembranças que causam dor são facilmente esquecidas para que se dê de cara com a parede muitas e muitas vezes.

A mão ainda doía, mas a língua doía mais. É como aquele ditado que diz que pra parar uma dor, é só sentir outra. Acredito que isso também funcione com relacionamentos: pra esquecer a dor de um, só colocando a dor de um novo por cima. É um ciclo vicioso.

Ela despejou o café na pia e resolveu beber chá.

sábado, 11 de maio de 2013

Interdisciplinaridade de sentimentos.



Depois de horas no telefone, percebo que nossa ligação é bem mais profunda que isso. É como se fosse entre átomos. Você se agarra a mim como se fosse o Hélio e eu os seus míseros dois elétrons. A minha eletroafinidade é baixa, mas a sua foi grande o bastante para nós dois.

E não só nisso somos opostos: eu corro, você fica parado. Eu coro, você acha engraçado. Eu choro, você ri. Dá a hora de eu voltar, quando tá na hora de você ir. Você faz malabares, eu sou do tipo que fica na plateia e assiste com vontade de fazer. Eu sou dramática, faço rodeios, e você? Vai direto ao ponto. Vale lembrar aqui, de um modo bem clichê, que os opostos se atraem.

Entretanto, nada disso importa, porque com você a teoria das cordas é bamba! A saudade é relativa e inversamente proporcional: quanto menor a distância, maior a vontade de ficar junto. Nessa história, um mais um pode não ser dois. 1+1 dá 1, de tão unidos que ficam.

E mesmo sem a nossa química ser perfeita, a gente faz um balanceamento pra atingir o equilíbrio. Com você, parece que tá tudo no canto certo e em perfeito funcionamento: eu atinjo a homeostase e se brincar, até o Nirvana.

Crônicas chegam ao fim com um ponto final, as coisas da vida terminam em morte e uma hora, os reagentes param de reagir. Ainda bem que as semelhanças só se aplicam às minhas analogias, e nunca ao nosso final. Pra nós, um final feliz, de preferência.