tag:blogger.com,1999:blog-39612536116142683332024-03-12T22:46:44.577-03:00Preto ou BrancoÉrika Oliveirahttp://www.blogger.com/profile/17289328538022455011noreply@blogger.comBlogger54125tag:blogger.com,1999:blog-3961253611614268333.post-22289442971137866802015-10-09T08:55:00.002-03:002015-10-09T08:55:52.465-03:00Devaneio “Difícil é a pessoa ficar cheirosa depois de um dia de trabalho.”<br />
"Eu costumo te achar cheirosa sempre."<br />
"Essa afirmativa só pode ser comprovada mediante apresentação de cheiro no pescoço"<br />
<br />
Ele ficou desconcertado e ela sabia, mas as coisas aparentemente só funcionariam assim, na base do comentário escrachado. Era mais que claro que ambos queriam estar agarrados, mas a timidez dele já a deixava impaciente. “Bora, meu querido, reaja, faça alguma coisa, que se eu fizer mais que isso, só se eu me atirar em cima de você”, pensava a moça se apoiando no último fiapo de autocontrole que restava em seu corpo.<br />
<br />
Mas de que adiantava autocontrole se ela queria mesmo era soltar as amarras e avançar nele?! Sentir os lábios finos pressionados contra os seus enquanto as mãos passeavam como faísca por rastro de pólvora. Primeiro pelo rosto, tímidas, sem reconhecer o tamanho da liberdade finalmente alcançada. Depois, curiosas pelo pescoço, carinhosas pelas costas, ávidas pela cintura.<br />
<br />
Sabe aquele abraço que puxa mais pra perto quem já está junto e funciona muito melhor que palavras ao dizer “Vem cá que eu te quero”?! Então! O autocontrole foi pras caralhas. A boca já deslizava para o pescoço e pequenos gemidos se soltavam ao pé do ouvido. Quem se importa com o mundo ao redor com um universo de sensações a descobrir ali na sua frente?<br />
<br />
“Ei, psiu!”.<br />
Ela foi arrancada de seu devaneio pra que os pensamentos se tornassem realidade.Érika Oliveirahttp://www.blogger.com/profile/17289328538022455011noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-3961253611614268333.post-58768176422262763392015-09-29T23:20:00.000-03:002015-09-29T23:24:41.765-03:00O beijoDe repente, mas não inesperado, o beijo aconteceu. Aquele beijo que os olhares cúmplices admitiam querer, que no pensamento já havia acontecido centenas de vezes, e que foi muito melhor na realidade. <br />
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Daqueles beijos que você nem vê o tempo passar, que você esquece que tem que respirar e que encaixa de um jeito, que faz a imaginação fluir e as mãos passearem. Daqueles beijos que dão a sensação de que as coisas estão no lugar certo, finalmente. Daqueles beijos que você só interrompe pra poder dar aquele sorriso de satisfação.<br />
<br />
“Tava me controlando pra ver até onde ia sua timidez”, ela disse. Coisa de Áries que gosta de brincar com a presa antes de atacar de novo. Érika Oliveirahttp://www.blogger.com/profile/17289328538022455011noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-3961253611614268333.post-15136130140913798502015-06-25T21:25:00.001-03:002015-06-25T21:25:36.229-03:00Itinerantes: histórias de quem vive no circo"É difícil eu dizer pra você como é não viver no circo, porque o que eu conheço da vida é viver no circo", diz Cristina Sbano, filha e neta de artistas circenses que viveu os 46 anos da sua vida como seus antecessores: trabalhando em circos de todo o Brasil. Ela já foi de tudo um pouco, de palhaça a apresentadora de espetáculo, e hoje coordena as coreografias executadas no Mirage Circus. A história de Cristina é a que pode ser chamada de tradicional nessa situação. <br />
<br />
Saiba mais sobre essa e outras histórias de vidas de circo na reportagem produzida por mim e amigos do curso de Jornalismo/UFRN para a disciplina de Reportagem, pesquisa e entrevista.<br />
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<iframe width="420" height="315" src="https://www.youtube.com/embed/icjE_3YwjKc" frameborder="0" allowfullscreen></iframe>Érika Oliveirahttp://www.blogger.com/profile/17289328538022455011noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-3961253611614268333.post-50032359301197260452015-06-23T16:26:00.001-03:002015-06-23T22:47:49.642-03:00Sobre tempo e abraçosEinstein já disse que o tempo é relativo, e disso qualquer amante à espera de seu amado é prova viva. Para quem espera aquele abraço com um cheiro no pescoço, as horas se arrastam. Enquanto pro resto do mundo passaram-se duas semanas, já se foram bem uns 20 dias, quase um mês de batidas de um coração apressado. <br />
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A ansiedade vai comendo por dentro enquanto você come a parte de fora, a começar pelas unhas. Por dentro tudo acontece em <i>time lapse</i> e ao redor, as coisas mal se movem em <i>slow motion</i>. Parece que a velocidade dos ponteiros do relógio vai ser sempre inversamente proporcional à sua vontade de que o tempo passe. Uma volta do ponteiro maior parece exatamente igual a uma do menor. <br />
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Que nem criança mal-criada, o Tempo só faz o contrário do que você quer. É só acontecer o primeiro abraço que, num piscar de olhos, Ele voa. Aquele abraço em que tudo é calma e nada de mal pode acontecer. Aquele abraço que faz você achar que está o mais próximo que se pode chegar do Paraíso na Terra. É um aperto bom que junta todos os pedacinhos que o Tempo espatifou. <br />
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Nesse abraço, enquanto o tempo corre, tudo para, num paradoxo gostoso de viver que não precisa ser explicado em teorias científicas. Érika Oliveirahttp://www.blogger.com/profile/17289328538022455011noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-3961253611614268333.post-61896133546153513662015-06-12T16:25:00.000-03:002015-06-12T16:25:29.393-03:00Presente de dia dos namoradosApesar do espírito consumista que rodeia esse 12 de junho, o que eu quero de presente nesse Dia dos Namorados não precisa (nem pode) ser comprado. Você me perguntou tanto o que eu queria ganhar, e eu, que não soube responder na hora, te digo.<br />
<br />
Quero que o dia passe bem rápido para chegar logo a hora de eu te ver. Quero beijo na nuca. Quero os teus braços ao meu redor da minha cintura. Quero aquele sentimento de que nada pode me atingir só porque estamos juntos. Quero deitar a cabeça no teu ombro e encaixar meu nariz na curva do seu pescoço.<br />
<br />
Não quero porta-retrato, quero registrar na pele nossos momentos juntos. Não quero um relógio, quero que o tempo pare. Nem roupas, quero é tê-las arrancadas do meu corpo. Ou talvez aquele seu casaco velhinho, que você sempre deixa no carro só pro caso de eu sentir frio.<br />
<br />
Não quero um jantar no melhor restaurante da cidade, quero aquela lasanha maravilhosa que só você sabe fazer. Não me traga um buquê de rosas, nem colar de ouro, nem sapatos de salto. Quero só um bilhete, uma massagem no pescoço e subir nos teus pés para dançar.<br />
<br />
Quero aquele sussurro ao pé do ouvido que faz as batidas do meu coração parecerem um tambor marcando o ensaio de uma escola de samba. Quero o carinho que dá arrepios e borboletas no estômago. Quero ficar hipnotizada pela intensidade com que me olhas.<br />
<br />
Quero só estar com você, e não só nesse dia, mais um no calendário. Quero estar sempre que possível e quando não for tão possível também. Só uma olhadinha durante um almoço, um beijo de despedida e correr de volta pro trabalho com a certeza de que amanhã vou te encontrar de novo.Érika Oliveirahttp://www.blogger.com/profile/17289328538022455011noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-3961253611614268333.post-82078254207354226972014-11-26T01:50:00.003-02:002014-11-26T01:50:42.511-02:00O melhor da vida é de graçaHá uns anos assisti a um filme que mudou meu jeito de olhar o mundo. O fabuloso destino de Amélie Poulain conta como a vida de alguém pode mudar a partir do momento em que ela repara nos pequenos prazeres da vida. Amélie, a protagonista, gosta de enfiar a mão num saco cheio de grãos e de quebrar a casca do crème brulée com a colher antes de comer. Amélie é como eu e como você.<br />
<br />
Quem nunca reparou nos formatos conhecidos nas nuvens? E quem não é louco por estourar plástico bolha? Os amantes de futebol devem concordar que é muito melhor ver o momento exato do gol e não o replay. É aquela graça e charme contidos num momento efêmero.<br />
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Cheiro de livro recém-comprado ou de grama recém-cortada. Quando o ônibus para na sua frente em um ponto lotado. Pisar descalço na grama e sentir as milhares de folhinhas fazendo cócegas nos pés. Ouvir o barulho do mar batendo nas pedras. Estalar todos os dedos do pé ao mesmo tempo.<br />
<br />
Deitar a cabeça no colo de quem se gosta e receber cafuné. Zapear os canais da TV e achar seu filme favorito passando. Melhor ainda se estiver no começo. Gostar de uma música na rádio e o locutor dizer o nome logo após. Achar dinheiro no bolso da calça. Dançar com os pés em cima dos pés do seu par.<br />
<br />
Passar cola de isopor na mão e esperar secar pra poder tirar. Enfileirar dominós só pela graça de derrubá-los. Ver um dos primeiros flocos de neve cair e derreter. Ver o céu parecer aquelas garrafinhas com areia na hora do pôr-do-Sol. Raspar a panela do brigadeiro. Terminar de ler uma crônica. Érika Oliveirahttp://www.blogger.com/profile/17289328538022455011noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-3961253611614268333.post-14789609727548145822014-08-05T16:43:00.002-03:002014-08-05T17:22:49.986-03:00Se: partícula apassivadoraTodo mundo tem um ponto da vida em que se pergunta como seria o presente, se no passado tivesse tomado decisões diferentes. E se tivesse escolhido outro curso na hora de prestar vestibular? E se nem tivesse prestado vestibular, tivesse ido viajar? E se nessa viagem conhecesse o amor da vida? E se o amor da sua vida, na verdade, estivesse naquele bar que você deixou de ir ontem? E se...<br />
<br />
“Se” é advérbio de condição. Condiciona você a uma vida de incertezas e reconsiderações. “Se” é partícula apassivadora. Ou seja, de gente passiva. Usada quando se olha pro passado e reflete-se sobre o que devia ter sido feito, mas não foi. "Se" é índice de indeterminação do sujeito também: tira a determinação de viver do sujeito dono de sua vida.<br />
<br />
Viver a vida projetando um futuro de “E se...” é uma ironia infeliz. É passar a vida pisando em ovos com medo de fazer algo e se arrepender e, no futuro, se arrepender por não ter feito. É viver pela metade. É a mesma coisa de querer comer chocolate e comer uma barra diet. Só pra matar a vontade, sem sentir prazer. Não vale a pena. <br />
<br />
Tem até ditado popular sobre isso: é melhor arrepender-se por ter feito alguma coisa, do que por não ter feito nada. Pelo menos quem se arrepende por ter feito, tem história pra contar, tem memórias diferentes umas das outras ao invés de dias monótonos, todos iguais. Quem se arrepende por ter feito pode, das duas, uma: pedir desculpas ou dar de ombros, afinal, já foi feito, não tem como mudar. Ambas as opções deixam a mente leve.<br />
<br />
E se o "se" condicionar uma situação diferente? E se mudar? De preferência rápido. Já disse Adriana Calcanhotto: “Vambora, que o que você demora é o que o tempo leva”.Érika Oliveirahttp://www.blogger.com/profile/17289328538022455011noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-3961253611614268333.post-51553149920426056742014-07-24T21:53:00.001-03:002014-07-26T15:11:26.213-03:00Vendem-se sonhosVoltando da casa de uma amiga minha, passei pelo meio da Feira do Carrasco na Hora do Grito, que é no fim da feira, quando tudo fica mais barato pra vender mais rápido. Envolvida pelo tumulto, escutei um diálogo: uma moça de uns 16 anos conversava com a amiga enquanto comprava peixe.<br />
<br />
- Não, mulher, eu que não quero mais namorado na minha vida. Só dá trabalho.<br />
<br />
A mulher da barraca aproveitou pra vender o dela: - Pois leve esse aqui, esse namorado tá bom todo. <br />
<br />
Daí, me imaginei em outro tipo de feira: e se o que estivesse a venda fosse uma vida amorosa perfeita? Na qual você pudesse escolher a dedo um novo amor e os sentimentos que sentiria?! Tudo sem dificuldades pra vida dar certo. Em vez de gritar "Cacho de banana é um real, é um real!”, seria mais ou menos assim:<br />
<br />
"Namorado novo, 1.80, loiro, moreno ou ruivo. Tem liberal e tem ciumento. Carinhoso e cafajeste, daqueles que faz sofrer bem muito. É pra aproveitar! Tem também pra botar chifre: pague um e leve dois!". E as ervas? Pode dizer adeus ao boldo, camomila e mastruz. <br />
<br />
Teria chá pra tirar saudade e o bom chá pra curar dor de cotovelo. Chá que impedisse de adoecer de tristeza e de bônus, ainda amenizaria aqueles sintomas que sempre vêm com uma crise de choro: dor no peito, nariz escorrendo e olhos inchados. Infelizmente, eles ainda teriam gosto ruim, porque, segundo minha avó: “Só remédio amargo é que cura”.<br />
<br />
Outros problemas facilmente resolvidos seriam mão suada e coração acelerado-parece-que-vai-parar, sintomas de quando você fica nervoso. Esse momento é justamente o que o "pretendente” aparece na sua frente. Seriam eficientes e sem efeitos colaterais. A vida seria bem mais simples.<br />
<br />
Já perto do fim da feira, um carro de vender cd toca um forró a todo vapor e um casal dança perto. “Saudade inté que assim é bom, pro cabra se convencer que é feliz sem saber”. Talvez a gente tenha que sofrer pra poder sentir melhor os bons momentos. Talvez sonhos perfeitos não sejam vendidos porque essas desventuras é que são o tempero da vida. <br />
Érika Oliveirahttp://www.blogger.com/profile/17289328538022455011noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-3961253611614268333.post-48319606603814940152014-06-29T12:24:00.000-03:002014-06-29T12:24:52.657-03:00Se a saudade é maior que a distânciaA perna que apoia a coxa bate insistentemente no chão. Toc toc toc toc faz a sapatilha rosa no piso de madeira. Ele estava atrasado. Após os olhares tortos do senhor sentado à mesa ao lado, resolveu esperar quieta. Como será que ele estava após tantos anos? Com certeza com a barba grande. Engraçado. Nele, ficava perfeitamente bem. <br />
<br />
Ele chegou desfilando, felino, cabeça baixa e os olhos levantados. Atento, reparou na saia, na blusa e no sorriso. Ou talvez estivesse só analisando a presa. Ela nunca saberia. Chegou tímido, sentou, parecia que até que não eram próximos. Bastaram alguns minutos pra que tudo voltasse ao normal: eram eles dois novamente. Como se nem tivessem se separado.<br />
<br />
Pareciam estar num livro: Memórias de Um Sargento de Milícias, entre um “beliscão e uma pisadela” se via amor. Amor porque a semelhança entre um beliscão e um amor arrebatador é que ambos deixam marcas e talvez, mas só talvez, essa fosse a intenção deles. Ele ia pra longe e ela ficaria. E as marcas também.<br />
<br />
Ou só pareciam duas crianças. Quê é mais puro que amor infantil, primeiro amor? E essas coisas que nos atingem sem nem sabermos como começou e o que é. Andaram e riram e conversaram amenidades e tantas besteiras e mesmo com tantos “es”, não se cansaram.<br />
<br />
Ela podia passar a tarde inteira com a cabeça no ombro dele, com a barba dele roçando na sua testa. Aproveitando as brincadeiras pra segurar sua mão. Ou fazendo nada, como na maior parte do tempo. E ele sabia disso. E ele gostava que ela fizesse isso porque realmente queria fazer.<br />
<br />
No dia que ele foi viajar, ela o acompanhou à rodoviária. Ela saiu da casa dela e ele da dele. Apostaram corrida, ambos não querendo chegar, ambos querendo que o tempo parasse. O prêmio seriam dois abraços. Eles chegaram ao mesmo tempo, esperaram e quando a voz poliglota anunciou que o ônibus sairia nos próximos 15 minutos, ela o deixou na área de embarque. Hora de entregar o prêmio ao vencedor.<br />
<br />
“Como se dá dois abraços quando a gente não quer se separar?”, ele disse.<br />
<br />
E se separaram. Ele a beijou na testa e disse que eles se veriam quando ele voltasse. Ela o mandou ir andando antes porque não gostava de dar as costas à felicidade. E ele foi. Ela deu meia volta e andou rápido.<br />
Ao chegar à parte envidraçada da rodoviária que dá perfeita visão da área de embarque, virou-se. Ele a observava. Acenou e foi embora. Ela não disse adeus. Porque dizer adeus seria colocar um ponto final num sonho. E ela não queria acordar. <br />
<br />
Érika Oliveirahttp://www.blogger.com/profile/17289328538022455011noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-3961253611614268333.post-42995552073372575132014-03-08T17:32:00.001-03:002015-03-03T11:12:57.692-03:00Sobre o dia internacional da mulherFeliz dia da mulher. Pra todas, mas principalmente pras que fazem jus ao dia da criação dessa data.<br />
<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="http://4.bp.blogspot.com/-1I6mDrF_a_k/Uof7nWb55aI/AAAAAAAACmM/6Gf2k_M9-1Q/s1600/SIMBOLO+FEMINISTA.png" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" src="http://4.bp.blogspot.com/-1I6mDrF_a_k/Uof7nWb55aI/AAAAAAAACmM/6Gf2k_M9-1Q/s320/SIMBOLO+FEMINISTA.png" /></a></div><br />
Falo das que lutam para ter um salário igual ao de um homem que desempenhe a mesma função que a sua. Das que lutam pelo respeito que seu intelecto merece independente de vestirem minissaia ou burca. Das que lutam pelo respeito que seu corpo merece independente de saírem de casa as 0h e voltarem as 5h. <br />
<br />
Feliz dia da mulher praquelas que não aceitam o que a mídia diz que é bonito e se valorizam, independente de raça, tipo de cabelo e peso. E um dia ainda mais especial pras que, além de valorizarem a si, valorizam a mulher ao seu lado, sem chamar de puta a coleguinha que transa quando quer, porque sabe que o corpo e a decisão são dela.<br />
<br />
Falando em valorizar a si mesma, feliz dia da mulher pra quem escolheu não se depilar mais porque “isso é coisa de uma sociedade opressora e ditatorial sobre a aparência da mulher” e pra quem quer continuar fazendo chapinha e usar silicone porque beleza é subjetivo e é assim que ela se sente bem. Porque elas, ambas, são livres e podem fazer o que quiserem com seus corpos. <br />
<br />
Feliz dia da mulher pra mulher que é dona de casa e tem que cuidar de 10 panelas, 5 filhos e um marido. Mas que fez isso por escolha e não por pressão. E sobre escolha: feliz dia da mulher pra quem escolheu não ter filhos e marido, porque a vida é dela e não de uma sociedade vendedora de família de comercial de margarina. Pras engenheiras, motoristas, cabeleireiras, dançarinas de boate, vendedoras, presidentas e professoras que sustentam e cuidam de si próprias, feliz dia.<br />
<br />
Feliz dia da mulher às que tem coragem de denunciar o marido/namorado/pai/irmão que cometem violência doméstica ou sexual. Mais difícil que denunciar um cara desconhecido de uma van é denunciar alguém de dentro da sua casa. E feliz dia da mulher aquelas que ajudam as que ainda não tiveram essa coragem, sem julgar, só pelo apoio. Pras mulheres que não denunciaram ainda, felicitações e uma dica: saibam que a culpa não foi sua, nem do decote que você estava usando.<br />
<br />
É, principalmente, pra essas mulheres que desejo um dia feliz, pras que entendem o significado da morte de centenas de mulheres no dia 8/03/1857 na fábrica de tecidos em Nova York por lutarem por seus direitos trabalhistas e humanos. Como elas, façamos valer nossas opiniões e exijamos respeito e igualdade acima de tudo, todo dia. <br />
<br />
PS. Pra quem, infelizmente, continua acreditando que o dia da mulher é só sobre ser feminina e nem imagina que existe o “feminismo”... Procure se informar e tenha um bom dia. Érika Oliveirahttp://www.blogger.com/profile/17289328538022455011noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-3961253611614268333.post-28419660345534478592014-01-22T23:12:00.000-02:002014-07-11T02:22:22.769-03:00MadalenaMadalena cruzava a Avenida a pé às 4h da manhã. Carregava na mão direita os sapatos dourados de salto e na mão esquerda uma bolsa pequena com o celular, a carteira de identidade e o dinheiro do táxi que não pegou. Preferiu guardar o dinheiro pra próxima festa e caminhar. Já que fazia uma noite tão estrelada, aproveitaria! “Por que não?” E a lembrança da pergunta que se fez no início da noite ecoou: Por que não aproveitar?<br />
<br />
O vento balançava sua saia vermelha quando ela fechou a porta. Ao sair de casa, ouviu a voz da mãe perguntando aonde iria. Não sabia dizer. Só sabia que tinha que sair sem olhar pra trás pra sossegar. As quatro paredes que sustentavam sua casa agora pareciam encolher sobre sua cabeça. As luzes da rua a chamavam e os sons de carro passando eram alimento pra sua alma frenética.<br />
<br />
Entrou no primeiro bar que o movimento parecia bom, abriu a primeira cerveja e é aqui que começa a noite. No fundo do copo, o reflexo de seus pensamentos que precisam de ordem. Desprevenida, ela se afoga como se uma onda a tivesse pego num caldo, é fácil se perder entre os problemas quando se está só. Balança a cabeça e pensa: "Meu problema é que eu não consigo parar de pensar". Olhando ao redor, tanta gente conhecida. Encontra uma amiga da faculdade e ela lhe fala de uma festa na casa de um amigo. Pra lá elas vão.<br />
<br />
No carro, toca algo que faz as janelas estremecerem e o coração acompanhar a batida do bumbo da bateria. Param no posto de gasolina, compram um litro de vodca e seguem. O mesmo vento que balançou a saia entrava agora pela janela e esvoaçava os cabelos. Olhando os pneus girarem e as casas ficando pra trás, ela se lembrava de tudo que havia deixado no passado. Pra Madalena, o bom da vida é viver sem saber o que é bom ou mau, só sabendo o que quer, fazendo as regras do seu jogo e quem quiser, que jogue junto. Chegam ao apartamento do amigo da amiga da faculdade, apartamento pequeno num bairro nobre, cheio de gente, do jeito que é bom.<br />
<br />
O zumbido das vozes, a música alta, meia carteira de cigarros e uma caixa de cerveja depois, ela esqueceu. Anestesiou-se de tudo na varanda do décimo terceiro andar, de onde se tem uma bela vista da cidade. As luzes das casas ainda acesas levaram seus pensamentos em cada janela iluminada, em cada vida que era completamente diferente e numa hipótese de como seria sair de si mesma e entrar noutra vida, mais fácil, menos conturbada. Precisava de outra cerveja, já estava cansada desse "lembra-esquece" de problemas. <br />
<br />
Dentro da casa, seus pés se movem com o som enquanto procura quem irá guiá-la esta noite. O mais interessante estava encostado na parede, alto, moreno, cara de vocalista de banda de rock britânica. Pelo que sabia, era o fornecedor da noite. Ouviu os amigos falarem algo relacionado a ecstasy enquanto dançava por perto e sorriu. Achado.<br />
<br />
Conversa vai, após saber que Heitor acabara de voltar de um intercâmbio, uma pílula depois e risadas e gemidos, ela estava deitada sobre o ombro dele na cama, do outro lado da cidade. Pelos seus pensamentos sóbrios percebeu que está sozinha, mesmo quando acompanhada. Mesmo com ele ao seu lado, mesmo com qualquer alguém ao seu lado. Dentro dela, ela sempre estaria só. Levantou-se se cobrindo com o lençol e foi para o banheiro. Nem se encarou no espelho, vestiu-se e partiu. Ele dormia serenamente, melhor não acordá-lo.<br />
<br />
Daí chegou à Avenida, resolveu tirar os sapatos pra caminhar melhor. No caminho de volta pra casa, resolveu voltar a si. Percebeu que essa necessidade de adrenalina, essa necessidade de sempre precisar de alguma coisa, nada mais era do que sua alma gritando por preenchimento. Tinha tudo, mas algo sempre estava faltando. E a sensação de complemento, mesmo que momentâneo, era viciante. <br />
<br />
O sol chegava ao céu quando Madalena chegou em casa. Ao entrar, beijou a testa da mãe que dormia no sofá da sala. Passou pro quarto e jogou-se na cama. Dormiu de saia vermelha, sapato dourado na mão e barriga vazia. Entretanto, com o peito cheio.<br />
Érika Oliveirahttp://www.blogger.com/profile/17289328538022455011noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-3961253611614268333.post-59886852879610895522013-10-27T23:08:00.000-02:002014-09-17T22:02:14.799-03:00Tempo de escrever.Ando assim ,<br />
como se fosse demais<br />
pra caber<br />
dentro de mim<br />
<br />
Mais parece o movimento <br />
dos ponteiros do relógio<br />
marcando o tempo <br />
que faz que não escrevo<br />
<br />
Esse desconforto,<br />
Sentimentos<br />
sou eu cheia de preenchimento <br />
pra papel em branco<br />
<br />
Sensação<br />
que mais parece <br />
duas placas tectônicas<br />
em movimento<br />
<br />
Como um vulcão <br />
expelindo lava,<br />
eu vomito palavras<br />
pra ficar bem.Érika Oliveirahttp://www.blogger.com/profile/17289328538022455011noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-3961253611614268333.post-26322726229831683052013-09-28T01:32:00.000-03:002014-07-29T21:14:34.859-03:00Preto e quente ou Mnemotécnicas da dor Ela pegou a xícara da pia sem segurar na asa. No segundo seguinte, largou no susto e a viu quicando no chão com o impacto. Não quebrou, mas rachou. A mão ficou vermelha. O café se espalhou lentamente pelo piso formando dedos compridos de gotas e foi parar debaixo da geladeira. Iria dar trabalho pra secar.<br />
<br />
Colocou a mão debaixo da torneira aberta pra aliviar a queimadura. Enquanto a água corria por entre seus dedos, os pensamentos voltavam pra quando tudo começou. Os sons, as luzes e a batida inebriante que se misturavam com a fumaça dos cigarros ao redor. O show foi inesquecível, mas não pela música. A maior parte das lembranças que ela tinha desse sábado de setembro tinha relação direta com Ele. Sejam as lembranças boas ou as ruins.<br />
<br />
Catou a xícara do chão, pegou um pano, abaixou-se e limpou. Pegou outra xícara, pegou o bule e colocou mais café. Ela é do tipo que não desiste na primeira derrota. Dessa vez, segurando a xícara pela asa, levou a porcelana aos lábios entreabertos. Desnorteada pelo ardor na mão, queimou a língua. Incrível como uma coisa que machucara há pouco é tão facilmente esquecida. Como se nem tivesse acontecido. <br />
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Isso de esquecer fácil já nasce com o ser humano. Desde crianças somos apresentados a esse método de superação. Você cai da escada, sua mãe assopra seu machucado, mas depois de 10 minutos de choramingar, você volta pro topo da escada. Parece que as lembranças ruins são voláteis, enquanto que as boas grudam como solda no seu cérebro. <br />
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Ela nem se dá conta e do nada, as lembranças que mantém tão escondidas no fundo da sua alma invadem seus pensamentos. Ah, seus pensamentos... Se fossem só eles. O cheiro do perfume e de cerveja, o contato do abraço, dos lábios contra a bochecha, da barba contra a pele. É como se seu corpo necessitasse do contato.<br />
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Mas, apesar da existência desse novo contato tão necessário, o desenrolar do enredo é exatamente igual ao anterior. Com lembranças ruins. E ao que Nietzsche disse: “apenas o que não cessa de causar dor é que fica na memória”, ela rebate com: o que fica na memória é o que te faz bem, as lembranças que causam dor são facilmente esquecidas para que se dê de cara com a parede muitas e muitas vezes. <br />
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A mão ainda doía, mas a língua doía mais. É como aquele ditado que diz que pra parar uma dor, é só sentir outra. Acredito que isso também funcione com relacionamentos: pra esquecer a dor de um, só colocando a dor de um novo por cima. É um ciclo vicioso. <br />
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Ela despejou o café na pia e resolveu beber chá.Érika Oliveirahttp://www.blogger.com/profile/17289328538022455011noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-3961253611614268333.post-43253721463632522112013-05-11T00:06:00.000-03:002014-07-21T21:36:50.279-03:00Interdisciplinaridade de sentimentos.<a href="http://www.hojevouassim.com.br/wp-content/uploads/2012/03/audrey_hepburn_02.jpg" imageanchor="1" ><img border="0" src="http://www.hojevouassim.com.br/wp-content/uploads/2012/03/audrey_hepburn_02.jpg" /></a><br />
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Depois de horas no telefone, percebo que nossa ligação é bem mais profunda que isso. É como se fosse entre átomos. Você se agarra a mim como se fosse o Hélio e eu os seus míseros dois elétrons. A minha eletroafinidade é baixa, mas a sua foi grande o bastante para nós dois.<br />
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E não só nisso somos opostos: eu corro, você fica parado. Eu coro, você acha engraçado. Eu choro, você ri. Dá a hora de eu voltar, quando tá na hora de você ir. Você faz malabares, eu sou do tipo que fica na plateia e assiste com vontade de fazer. Eu sou dramática, faço rodeios, e você? Vai direto ao ponto. Vale lembrar aqui, de um modo bem clichê, que os opostos se atraem.<br />
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Entretanto, nada disso importa, porque com você a teoria das cordas é bamba! A saudade é relativa e inversamente proporcional: quanto menor a distância, maior a vontade de ficar junto. Nessa história, um mais um pode não ser dois. 1+1 dá 1, de tão unidos que ficam.<br />
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E mesmo sem a nossa química ser perfeita, a gente faz um balanceamento pra atingir o equilíbrio. Com você, parece que tá tudo no canto certo e em perfeito funcionamento: eu atinjo a homeostase e se brincar, até o Nirvana.<br />
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Crônicas chegam ao fim com um ponto final, as coisas da vida terminam em morte e uma hora, os reagentes param de reagir. Ainda bem que as semelhanças só se aplicam às minhas analogias, e nunca ao nosso final. Pra nós, um final feliz, de preferência.Érika Oliveirahttp://www.blogger.com/profile/17289328538022455011noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-3961253611614268333.post-35314812249670164182012-08-01T19:43:00.000-03:002014-01-23T00:49:36.697-02:00Manteiga derretida.Por mais que todos insistam em dizer que chorar não vale a pena e que é feio, não existe remédio melhor para tristeza. Sábias são as crianças que choram quando dá na telha e vivem sem mágoas atreladas a si. <br />
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Pararei de usar o termo "chorona" para caçoar das minhas amigas que choram com filmes e novelas. Por que isso tem que ser uma coisa ruim, afinal? A partir de hoje, não segurarei mais lágrimas! E se molhar o papel enquanto escrevo, melhor ainda, mais emoção ao texto. <br />
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Mas, antes disso, não me sentirei mal comigo mesma quando chorar. Penso assim: por mais chato que seja limpar o quarto, é necessário, e quando terminado o trabalho, faz muito bem. Chorar é limpar a alma, tirar as teias de aranha dos velhos pensamentos que machucam. <br />
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Não chorarei por tudo, mas me permitirei encher e esvaziar quando for preciso. Sem o "eu não aguento mais chorar", porque é chorando que se aguenta certas porradas.Érika Oliveirahttp://www.blogger.com/profile/17289328538022455011noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-3961253611614268333.post-8473072747581255792012-06-03T22:05:00.000-03:002014-11-13T02:00:00.271-02:00Lado ALuz amarela, um café gelado, um homem com aspecto cansado olha para outro de olhos inchados. "Quando você quiser falar, sinta-se à vontade". E vai passar outro café.<br />
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Era noite e ele esperara sentado. Sentado e de olhos fechados. Sentado e a cabeça pendendo. Sentado e os óculos caindo. Sentado e o cachorro fez barulho. Era hora, cansara de esperar.<br />
Ela havia saído pela manhã e já estava passando o jornal que antecedia a novela das 8. "Vou fazer uma visita a mamãe e não demoro". Não demora? Só se o relógio tiver parado. <br />
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Resolvera pegar o carro e passear com o cachorro, ele adorava ver a cidade à noite e o cachorro amava sentir o vento na fuça. Não precisou ir longe. Parou no primeiro bar para comprar cigarro e viu. Viu que o preço realmente tinha aumentado e que o vício ia virar um buraco era no bolso. <br />
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Olhou pra direita e notou uma mulher de vestido e batom vermelho que abraçava um homem enquanto ria. Ela levantou o rosto e ele sentiu aquilo no estômago. Como ela se atrevera a fazer aquilo com ele? Eles não haviam jurado amor eterno ou qualquer outro tipo de merda dessas? <br />
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Antes de ela conseguir erguer os braços pedindo calma, ele agiu. "ESSA É SUA MÃE, SUA CADELA?". Sangue nos olhos. <br />
Gritar não adiantaria, sentia que tinha que colocar alguma coisa de podre pra fora e essa coisa era ela. Se jogar uma garrafa na cabeça dela tivesse sido suficiente, ele teria parado por aí. Sua vontade era de arrancar os cílios postiços que ela usava no soco, queria que aquela puta sentisse o que ele estava sentindo.<br />
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Com o coração esmagado, voou pra cima dela. O outro se meteu no meio, e por mais que tentasse acertá-lo e tirá-lo do caminho, sentia-se diminuto e insignificante. Abaixou os braços, olhou pra ela e cuspiu no chão. "O cachorro fica comigo, é a única coisa verdadeira que você me deu". Olhou pro outro, com pena e tristeza, soltou uma risada irônica. <br />
Virou-se para o balcão, pagou o cigarro. Todos do bar estavam mudos, olhando-o com pena. Fez uma reverência e saiu. Fecharam-se as cortinas.<br />
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"Reiosse, essa mulher te acabou ein? Nem a barba você faz mais. Tá precisando tirar isso da cabeça."<br />
"Eu tô precisando é reabastecer. Esse café não sai mais não?" E riu amarelamente.Érika Oliveirahttp://www.blogger.com/profile/17289328538022455011noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-3961253611614268333.post-16792640533071490802011-12-11T00:52:00.003-02:002014-08-07T20:03:28.267-03:00Amor vicia- Ei, e o namorado novo?<br />
- Sabe quando você pensa num cara o tempo todo? E tem vontade de ter ele ao seu lado sempre? É tanta vontade de ter que você passa a contar as horas.<br />
- Sinto isso quando eu penso na cerveja que me espera sexta-feira.<br />
- É mais ou menos isso. Amor é como uma droga, vicia.<br />
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Os sintomas do vício aparecem quando você sente uma necessidade de encontrar com ela pra conversar todo dia, mesmo que não se tenha assunto. Mesmo que seja só pra ficar juntinho, sem dizer nada, porque o colo dela é o melhor lugar do mundo. E quando não dá pra se encontrar, liga, porque a voz dele é melhor que chá de camomila pra acalmar.<br />
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Quando sua memória repassa cada momento do encontro anterior e imagina como vai ser o próximo. Quando se cogita a loucura, porque não consegue pensar em outra coisa a não ser isso! Pensa antes de dormir, durante os sonhos e quando abre os olhos é a primeira ideia que vem à cabeça. Quando você sente que pode fazer qualquer coisa e que nada vai dar errado.<br />
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Entretanto, quando você está com as manias dele sem nem saber onde começa um e termina o outro, já vai num estágio avançado e preocupante. "Transforma-se o amador na coisa amada por virtude do muito imaginar", já dizia Camões. Recomendo a você uma boa rehab pra desintoxicar, afinal, tudo que é demais é ruim.<br />
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Mas bem pesado e bem medido, esse tal de amor é um bom entorpecente em que a gente quer é se esbaldar. Sem efeitos colaterais, faz o chão sob os pés sumir e o céu não ser limite. Meio como álcool, pode fazer bem à vida da gente, quando bebido moderadamente. Amor é que nem uma taça de vinho que você deve tomar todo dia. Faz bem pro coração.Érika Oliveirahttp://www.blogger.com/profile/17289328538022455011noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-3961253611614268333.post-21623010519535176762011-10-01T15:15:00.007-03:002014-11-13T23:18:54.400-02:00De Medusa a MadonnaManhã de sábado, mulheres correm enlouquecidamente, cada uma procurando um salão "vago" para fazer escova, sobrancelha, unha e se transformar na próxima Gisele só porque tem aniversário do afilhado. Local do crime: o salão mais próximo de você. Nem pense que isso acontece só em um, são todos assim: dos mais requintados aos mais simples. A moça chega, pergunta se está livre e a dona responde que sim, embora tenha cada funcionária ocupada. A moça espera no sofá olhando as revistas do ano passado, mas que se tornam a coisa mais interessante do mundo durante os 30 minutos de espera. A funcionária favorita fica livre e lá vai a moça. <br />
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Sala de depilação: a tortura. Mas pra cada tortura tem que ter uma distração que amenize. A da depilação é a conversa. Se fala de tudo, mas principalmente da vida. Do que acabou de acontecer, do que podia ter acontecido, do que vai acontecer e do que é especulado. Fala-se da sua vida meio que como em um divã, e a depiladora é a psicóloga. <br />
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Depois da depilação, unhas. A melhor parte. Parece que com as cutículas, vão-se embora todos os problemas. E os nomes dos esmaltes? Tem nome de gente, nome que não condiz com a cor dos esmaltes, como Lagoa Azul que não é azul, nomes de comida e nomes bregas. E os mais comuns: Vermelho (insira aqui um pecado). Pergunto-me no que diabos as pessoas que escolhem os nomes pensam na hora de escolher. Fora que tem milhares de tons diferentes pra só 20 dedos! E a mania de cor escura na mão e clarinha no pé? Por quê? Eu tenho, mas não sei o motivo. <br />
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A mocinha de pele de pêssego e mãos de fada senta na cadeira de frente ao espelho. Começa a contagem para duas coisas: a) de cabelos brancos e b) pro fim, porque não existe coisa mais chata que ter a cabeça puxada pra trás por uma escova. A conversa também continua, só que num tema diferente: Novela. Antenor foi expulso de casa, Quinzinho guardou o bilhete da loteria, Tereza Cristina é uma vaca e você tem o resumo da semana. <br />
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"Baby você não precisa de um salão de beleza" cantou Zeca Baleiro. Mal sabe ele que para as mulheres, salão de beleza não é somente um estabelecimento pra ficar mais bonita fisicamente, serve mais como um santuário. Contar os pecados e fazer tratamentos estéticos e espirituais. É um espairecimento do corpo e da alma.Érika Oliveirahttp://www.blogger.com/profile/17289328538022455011noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-3961253611614268333.post-40388401464498598142011-07-31T22:15:00.003-03:002014-01-23T00:47:58.669-02:00Entrando no branco.<a href="http://www.alienado.net/fotos/2010/01/gabarito-caderno-3.jpg"><img style="display:block; margin:0px auto 10px; text-align:center;cursor:pointer; cursor:hand;width: 280px; height: 213px;" src="http://www.alienado.net/fotos/2010/01/gabarito-caderno-3.jpg" border="0" alt="" /></a><br />
Já ouvi alguém dizer que o maior desafio de um ser humano é uma folha em branco. Isso deve ser porque, citando outra pessoa, tudo que nós sabemos fazer, aprendemos imitando. Usarei como exemplo o que estou fazendo: aprendemos a escrever imitando as letras que a professora risca no quadro.<br />
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Como saber o que fazer com algo que o ponto de partida é nada? Eu comecei esse texto usando as palavras de outras pessoas. E agora, o que é que vem? Pronto, acabou a cola. Como vou continuar a entreter os leitores sem algo digno pra copiar? Eu poderia acabar por aqui, entretanto, eu gosto de desafios.<br />
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Podia descrever a paisagem, e falar de como ela me faz sentir. Podia falar de amor ou tristeza, podia questionar o sentido da vida ou podia fazer críticas sobre qualquer coisa. Garanto que não estaria sendo a primeira, e nem a melhor. Podia, descaradamente, ser mais uma a dar dicas de como se escrever uma crônica, mas não vou fazer nada disso. Vou deixar essa crônica aberta, sem conclusão, inovando talvez, para quando aparecer algum ponto final decente.Érika Oliveirahttp://www.blogger.com/profile/17289328538022455011noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-3961253611614268333.post-83500150540422983842011-06-30T22:35:00.005-03:002014-12-02T03:29:04.589-02:00Almoço de domingoAlmoço de domingo deve ser igual em todas as famílias. Na casa da avó, a mesa que quase não cabe tanta travessa de comida. Pais e tios discutindo o sobe e desce do time do coração na tabela do Brasileirão. Os primos que se reencontram meses depois do último aniversário e o barulho das crianças correndo. Inconfundível, mas pode ser na casa de qualquer um.<br />
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Churrasco, feijão verde, arroz de leite, empadão, lasanha da tia, macaxeira frita e por aí vai. Tudo em quantidades que alimentariam um batalhão. Enquanto os pratos passam, as garrafas de cerveja fazem uma dança pelos copos. Quanto mais garrafas vão descansar vazias debaixo da mesa, mais a discussão futebolística desce a série. <br />
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Lembranças da última viagem da família pro sítio no interior e as histórias a serem contadas de quando os netos nem eram nascidos. As mãos batendo na mesa e as vozes alteradas assustam os que não sabem diferenciar uma briga de uma história mal contada em família.<br />
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Depois de abrir um espaço na barriga, tem que ter sobremesa. As cunhadas se juntam pra conversar, e falar mal da que não apareceu. "Aquela ali só quer ser rica”. As crianças cochilando num quarto. O frenesi vai diminuindo.<br />
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Com o cair da noite, voltam todos pros seus respectivos lares. Resultado: as crianças não aguentando mais ver doce e se achando milionárias com 10 reais. Presente da avó, porque avó que é avó mima até estragar. Os pais com a barriga cheia, de chopp ou de comida, que chega a dificultar o manuseamento do volante. Visão decadente, eu sei, mas nada poderia expressar melhor os melhores momentos em família.<br />
Érika Oliveirahttp://www.blogger.com/profile/17289328538022455011noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-3961253611614268333.post-86868156074517655762011-06-12T23:26:00.002-03:002014-01-22T23:32:56.630-02:00Causo de São João.<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEj4mrRIyxaipLXU6yoZih-Eh5jCbTL16SsDgb9Tr3xUDhMeGLZGGFz92xZyLQ5LGDSUm-ObFBbJH3Oysi_gQbEdJ6A2WfLwM0YsMTShzQ6ErKnZYSLjRphvgYhGAeqHEGVH81uMbtLD6t0/s1600/sao-joao.jpg"><img style="display:block; margin:0px auto 10px; text-align:center;cursor:pointer; cursor:hand;width: 320px; height: 214px;" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEj4mrRIyxaipLXU6yoZih-Eh5jCbTL16SsDgb9Tr3xUDhMeGLZGGFz92xZyLQ5LGDSUm-ObFBbJH3Oysi_gQbEdJ6A2WfLwM0YsMTShzQ6ErKnZYSLjRphvgYhGAeqHEGVH81uMbtLD6t0/s320/sao-joao.jpg" border="0" alt=""id="BLOGGER_PHOTO_ID_5617525990268265218" /></a><br />
Todo mundo lembra de amor quando falam em carnaval, amor que não sobe serra, casamento e dia dos namorados. O negócio é que ninguém para pra lembrar, que em junho, além de fogueiras e férias, acontece muito amor. Não estou falando do dia 13 não, dia de Santo Antônio, que ajuda as devotas encalhadas a conseguir um bom partido com suas simpatias maldosas. Colocar o santo de cabeça pra baixo dentro do poço é a mais vil chantagem que eu já vi.<br />
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Estou falando do dia de São João, que para muitos de romântico só tem o casamento matuto. Eu acho que não. Vou contar uma história que aconteceu lá pelas bandas de São Rafael, antes da cidade alagar. Foi num dia 23 de junho de um ano em que eu nem sonhava em nascer. Na frente da Igreja, um monte de barraquinhas abarrotadas de comidas típicas, a fogueira crepitava como as bandeirinhas coloridas no céu.<br />
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Anita, moça prendada, estava no comitê de organização, e cuidava de tudo com olhos de águia; queria uma festa que santo nenhum botasse defeito. Enquanto provava os quitutes que D. Mocinha havia preparado, apareceu Carmem avisando que Maria, a moça que ficaria na barraca do beijo estava com catapora e não poderia ir. Anita, mais do que responsável, assumiu o posto desamparado sob o olhar de desagrado de seu pai.<br />
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Ajeitou o penteado, alisou as dobras que tinha no vestido de chita, passou um batom rosa para atrair mais gente, afinal o dinheiro arrecadado iria para a paróquia. Foi pra trás da barraca vermelha cheia de corações. Todo mundo que passava, parava, pagava e ganhava um beijo na bochecha, até porque aquilo era um evento da Igreja e não um ato de desavergonhice.<br />
<br />
Mas essa história não teria graça se não houvesse um do contra: Seu Jorginho, moço aprumado, muito perfumado, gravata bordada, sapato engraxado e bigode penteado, apareceu para prestigiar a festa. Passou por todas as barraquinhas e quando viu Anita na barraca do beijo, não contou conversa e aproximou-se:<br />
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- Quanto é o beijo?<br />
- Boa noite pro senhor também, seu Jorginho. É um conto de réis. <br />
- E onde é o beijo, ein?<br />
- Na bochecha.<br />
- E onde seria para minha pessoa?<br />
- Continuaria sendo na bochecha, por que haveria de ser diferente? <br />
- Ora, Anita, você é minha namorada, não vá deixar meia tigela de besteira que esse povo fala acabar com nosso amor.<br />
- Eu era, seu Jorginho, ERA. A partir do momento que vossa senhoria passou a cortejar Janaína, minha melhor amiga, o senhor não tem direito a nada além de um beijo pago pra ajudar Padre Campos a ajeitar a Igreja.<br />
- E se eu pagasse mil contos de réis?<br />
- Ora, mais que disparate, o senhor pensa que eu vou me vender assim, por mil contos como se fosse uma vaca só pro senhor conseguir um beijo, tá MUITO DO ENGANADO.<br />
- Acabei de pagar seu dote ao seu pai, por isso estou aqui conversando com a senhorita sem que ele me aponte o 38 dele. Eu te amo, e tu não devia acreditar no que o povo fala, só fui falar com Janaína pra saber de que tipo de anel você mais gostava.<br />
<br />
Sem perder mais um minuto, num milagre de São João, não de Santo Antônio, Anita pulou no pescoço de Jorge e tascou-lhe um beijo que nem um milhão de réis pagaria. É por essa que eu acredito que amor não tem data fixa, nem santo certo, pra acontecer.Érika Oliveirahttp://www.blogger.com/profile/17289328538022455011noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-3961253611614268333.post-53901545931683907772011-05-24T15:49:00.003-03:002014-01-23T00:05:02.451-02:00Teoria da evolução contemporâneaVocê, leitor, num domingo à noite liga a TV. Passa os canais à procura de algo que te distraia do mundo real, que anda violento demais. Então, jornal não. O canal X está passando a propaganda de sempre, tentando vender um espremedor de frutas que limpa a pia após feito o serviço. Próximo!<br />
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O canal de música que costumava tocar todo tipo de banda, agora só toca o que a massa quer, e pode, ouvir. No seguinte, tem uma família fazendo do palco, um divã, enquanto discute a má relação dos pais divorciados com os filhos revoltados. E piora: logo após o intervalo, não perca, o divã virará laboratório e Gilvanderson descobrirá se realmente é pai do filho de Juciara. Outro canal, por obséquio.<br />
<br />
Agora um festival de peitos e bundas ao sol, barracos forçados, romances dignos de contos de marionetes, ops, de fadas. Tudo isso junto numa casa filmada. Um banquete para os que tanto gostam de olhar a vida alheia. <br />
Televisão brasileira: serve para, vigorosamente, entreter e divertir o povo enquanto suga as informações úteis do cérebro dos espectadores. Ou você, leitor, achava que o único motivo de o único programa educativo da TV aberta passar as cinco da matina era por falta de horário?<br />
<br />
Que Darwin me perdoe, e não se contorça na cova, mas essa é a teoria de evolução dos dias de hoje é: quanto mais o ser humano souber da vida social alheia, mais informado ele estará.<br />
Érika Oliveirahttp://www.blogger.com/profile/17289328538022455011noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-3961253611614268333.post-57076896313640367582011-05-03T21:35:00.003-03:002015-01-16T19:11:45.659-02:00Vida RealSe me perguntassem por que eu estou aqui, sentada no banco desse bosque, não saberia responder.<br />
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Mentira, saberia sim, mas eu acharia melhor não o fazer. Ir no mais íntimo dos sentimentos sempre é perturbador, e como todo ser humano: eu prefiro o caminho mais fácil. Entretanto, não o mais simples.<br />
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A justificativa de eu estar aqui não seria um "Eu estava cansada de ficar em casa" e sim "Parecia que o teto ia esmagar minha cabeça de tão sufocada que eu estava, tive que sair voando e até esqueci o prendedor de cabelo".<br />
<br />
Também queria escrever, a única coisa que acaba com minha ansiedade. Podia escrever em casa, mas ainda acho muito simples escrever em casa. Tenho que ter alguma coisa que enfeite de onde vem a criatividade para eu escrever esse projeto de crônica.<br />
<br />
Aí eu saí, fiquei entre ir a um supermercado, ver o corre-corre das pessoas em busca das promoções relâmpago e escrever sobre a falta de tempo, ou vir pro bosque e só ver. Talvez escrever o que sentia ou descrever o farfalhar das árvores. Segunda opção foi mais fácil. Mas quem disse que eu não posso dar aquela enfeitada? Já falei que não gosto de nada simples. Então: achei que o ar puro iria me fazer limpar as idéias e me distrair... Pra não dizer que foi somente por estar mais perto do bosque.<br />
<br />
Acabou que chegando aqui, ouvindo Engenheiros do Hawaii e relembrando tudo que eu tinha pensado no caminho, decidi escrever sobre minhas ações cerebrais, vulgares pensamentos, e percebi que vivo tentando fazer a minha vida parecer menos monótona do que realmente é, e como se fosse pouco, querendo que ela seja lírica e cinematográfica. Isso tudo pra que tenha graça. Hábitos de escritora, que fazer?<br />
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Mas com isso, percebi que sempre vivemos querendo mais do que temos, não importa o quê. Agora eu quero mais romantismo, aventura e um tchan. Vou passar na padaria na volta pra casa e comprar um sonho bem recheado pra ver se enfeita a realidade.<br />
<br />
"Ah, vida real, onde é que eu troco de canal?"Érika Oliveirahttp://www.blogger.com/profile/17289328538022455011noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-3961253611614268333.post-52556094165552792642011-04-13T22:27:00.003-03:002014-01-22T23:35:27.510-02:00Too much.“Corrupto demais,/política demais,/tristeza demais./O interesse tem demais!/Violência demais,fome demais,/falta demais,/promessa demais.”<br />
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Sempre ouvi dizerem que tudo demais não presta... Nem precisa ser substantivo ruim como na música d’O Rappa. Quer ver?!<br />
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Amor demais. Amor demais sufoca. Amor demais enjoa, dá agonia de tanta presença. Cada um precisa de seu tempo e espaço e isso é fato desde que o mundo é mundo. Como é que os relacionamentos iam funcionar se as pessoas tivessem 100% do tempo junto de quem se gosta? Não haveria desejo, afinal não se deseja o que já se possui. <br />
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Alegria demais parece coisa de quem é infeliz. E coisa de quem finge. Seja feliz, mas seja feliz não pra parecer pros outros, e sim pra você. Tem gente que finge que é feliz pra agradar e sai com um sorriso de todos os dentes, quando por dentro se é banguela. De que adianta ser tão feliz por fora se não é de verdade?<br />
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Dinheiro demais. OK! Sei que vão me atirar pedras por dizer isso e muitos “o 4º parágrafo é mentira blábláblá”, mas eu, sinceramente, não sei pra quê gente que já tem dinheiro quer mais dinheiro ainda. Quando me perguntam “Qual seu sonho?”, eu não respondo que é ganhar na loteria, como a maioria das pessoas. Felicidade vem com dinheiro, mas quem disse que precisa ser o dinheiro do mundo todo? Se eu não ficar cheia de dívidas e tiver comida na minha mesa todos os dias, tô de boa.<br />
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Esses foram só três exemplos, mas não são os únicos. Foi só pra perceberem que tudo tem dosagem certa. Nem demais, nem de menos. Como distância: não precisa ser vizinho e se ver todos os dias, entretanto não precisa ir morar no Acre.Érika Oliveirahttp://www.blogger.com/profile/17289328538022455011noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-3961253611614268333.post-16308225685466240422011-04-11T21:11:00.002-03:002014-08-07T17:43:43.821-03:00Aniversário alheio.<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgnkQnsht6ZZnb0MeBQBoDcMCR2vRLIohKnLPAwvrL3tvThTIFpq5qUwZ2aiR7ddhN8NYeesGWleziPBjt679RkkyQ8skEOr0g6LaCcsCW1LzV8YjNbiEfeHknl7CaEkwqB3CuR2aPOVu0/s1600/cupcake+vela.jpg"><img style="display:block; margin:0px auto 10px; text-align:center;cursor:pointer; cursor:hand;width: 214px; height: 320px;" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgnkQnsht6ZZnb0MeBQBoDcMCR2vRLIohKnLPAwvrL3tvThTIFpq5qUwZ2aiR7ddhN8NYeesGWleziPBjt679RkkyQ8skEOr0g6LaCcsCW1LzV8YjNbiEfeHknl7CaEkwqB3CuR2aPOVu0/s320/cupcake+vela.jpg" border="0" alt=""id="BLOGGER_PHOTO_ID_5594487097532401938" /></a><br />
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Passos para lá e para cá no meio da sala, os nós dos dedos já brancos de tanto serem apertados e estalados; a boca se mexe recitando um discurso que nunca está bom o suficiente, só porque é para ele. Ele. É com ele que vai falar e é por isso que precisa que seja perfeito.<br />
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E se não for ele a abrir à porta? Qual é a melhor reação? Foi para frente do espelho e começou a ensaiar o que diria se a mãe dele abrisse a porta. Se já estava sem graça de falar com ele, avalie com a mãe. Começo de namoro é sempre assim.<br />
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"João está aí?" Não, muito direto, parece que ela não tem educação. <br />
"Bom dia, o João se encontra?" Isso foi tão educado que chega a ser falso. Ninguém é tão educado assim.<br />
“Oi, o João tá aí?" Ótimo, espontâneo e sorridente. Com sorte ele não estará.<br />
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Estranho ela escolher algo tão espontaneamente previsto. Chega a ser hilário isso de se preparar tanto para algo que sempre sairá melhor se for espontâneo. Mais hilário ainda é querer fazer algo e torcer pra não ter que fazer. A contrariedade feminina contrasta com sua indecisão certa.<br />
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E quando ele aparecer? "Parabéns João, tudo de bom, é só uma lembrancinha". Isso e um sorriso falso. Nada mais sem graça. Nada mais programa do Gugu no domingo. <br />
"Feliz aniversário, João. Muita luz, que Deus te abençoe, muita paz, saúde..." Isso e uma roupa azul com bolinhas brancas e ele pensa que é a avó falando.<br />
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Melhor deixar rolar, já são quase quatro e meia e ela está se atrasando. Vai saindo de casa, pede ajuda pra tudo quanto é santo que melhore as ideias. Incrível que quando não se quer, sai um conto, mas um simples Happy Birthday quase a faz arrancar os cabelos. Falando em Happy Birthday, como Marilyn Monroe conseguia cantar isso saindo de um bolo de um modo tão "I don’t care" pro presidente Kennedy, enquanto ela não consegue nem achar uma frase expressiva para seu novo namorado. Não desmerecendo o namorado, claro.<br />
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Tocou a campainha da casa e esperou, um minuto parece um dia, uma eternidade. Ai, que exagero. Ele abre a porta. E agora? Não ensaiou pro caso de ele atender a porta, ensaiou pro caso da mãe dele atender e ir chamá-lo. Isso era totalmente diferente. Não deu tempo de pensar no que fazer ou falar. <br />
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“Oi, meu amor.”<br />
E veio o abraço, esqueceu o que tinha ensaiado e o que não tinha também, esqueceu até que tinha presente nas mãos. Havia se preocupado tanto com a cereja do bolo que esqueceu que o mais importante, o próprio bolo, o fato de ter lembrado. Porque o que vale é o que importa.Érika Oliveirahttp://www.blogger.com/profile/17289328538022455011noreply@blogger.com4