sexta-feira, 9 de outubro de 2015

Devaneio

“Difícil é a pessoa ficar cheirosa depois de um dia de trabalho.”
"Eu costumo te achar cheirosa sempre."
"Essa afirmativa só pode ser comprovada mediante apresentação de cheiro no pescoço"

Ele ficou desconcertado e ela sabia, mas as coisas aparentemente só funcionariam assim, na base do comentário escrachado. Era mais que claro que ambos queriam estar agarrados, mas a timidez dele já a deixava impaciente. “Bora, meu querido, reaja, faça alguma coisa, que se eu fizer mais que isso, só se eu me atirar em cima de você”, pensava a moça se apoiando no último fiapo de autocontrole que restava em seu corpo.

Mas de que adiantava autocontrole se ela queria mesmo era soltar as amarras e avançar nele?! Sentir os lábios finos pressionados contra os seus enquanto as mãos passeavam como faísca por rastro de pólvora. Primeiro pelo rosto, tímidas, sem reconhecer o tamanho da liberdade finalmente alcançada. Depois, curiosas pelo pescoço, carinhosas pelas costas, ávidas pela cintura.

Sabe aquele abraço que puxa mais pra perto quem já está junto e funciona muito melhor que palavras ao dizer “Vem cá que eu te quero”?! Então! O autocontrole foi pras caralhas. A boca já deslizava para o pescoço e pequenos gemidos se soltavam ao pé do ouvido. Quem se importa com o mundo ao redor com um universo de sensações a descobrir ali na sua frente?

“Ei, psiu!”.
Ela foi arrancada de seu devaneio pra que os pensamentos se tornassem realidade.