quinta-feira, 24 de julho de 2014

Vendem-se sonhos

Voltando da casa de uma amiga minha, passei pelo meio da Feira do Carrasco na Hora do Grito, que é no fim da feira, quando tudo fica mais barato pra vender mais rápido. Envolvida pelo tumulto, escutei um diálogo: uma moça de uns 16 anos conversava com a amiga enquanto comprava peixe.

- Não, mulher, eu que não quero mais namorado na minha vida. Só dá trabalho.

A mulher da barraca aproveitou pra vender o dela: - Pois leve esse aqui, esse namorado tá bom todo.

Daí, me imaginei em outro tipo de feira: e se o que estivesse a venda fosse uma vida amorosa perfeita? Na qual você pudesse escolher a dedo um novo amor e os sentimentos que sentiria?! Tudo sem dificuldades pra vida dar certo. Em vez de gritar "Cacho de banana é um real, é um real!”, seria mais ou menos assim:

"Namorado novo, 1.80, loiro, moreno ou ruivo. Tem liberal e tem ciumento. Carinhoso e cafajeste, daqueles que faz sofrer bem muito. É pra aproveitar! Tem também pra botar chifre: pague um e leve dois!". E as ervas? Pode dizer adeus ao boldo, camomila e mastruz.

Teria chá pra tirar saudade e o bom chá pra curar dor de cotovelo. Chá que impedisse de adoecer de tristeza e de bônus, ainda amenizaria aqueles sintomas que sempre vêm com uma crise de choro: dor no peito, nariz escorrendo e olhos inchados. Infelizmente, eles ainda teriam gosto ruim, porque, segundo minha avó: “Só remédio amargo é que cura”.

Outros problemas facilmente resolvidos seriam mão suada e coração acelerado-parece-que-vai-parar, sintomas de quando você fica nervoso. Esse momento é justamente o que o "pretendente” aparece na sua frente. Seriam eficientes e sem efeitos colaterais. A vida seria bem mais simples.

Já perto do fim da feira, um carro de vender cd toca um forró a todo vapor e um casal dança perto. “Saudade inté que assim é bom, pro cabra se convencer que é feliz sem saber”. Talvez a gente tenha que sofrer pra poder sentir melhor os bons momentos. Talvez sonhos perfeitos não sejam vendidos porque essas desventuras é que são o tempero da vida.