segunda-feira, 15 de novembro de 2010

18:15


Estava deitada de barriga pra cima no banco, pensando e olhando a lua crescente. Preferia estar ali no sereno, como diziam seus pais, do que em casa. Ali, Ana sentia paz. Ouvia o barulho do vento nas folhas das árvores, o som das vozes dos grilos e das pessoas do outro lado do muro. Cantava baixinho algo que parecia um choro para se embalar. E com o friozinho que estava fazendo só faltava uma coberta pra pegar no sono.

Olhando pra cima, via a lua e uma estrela brilhando forte perto. A primeira estrela que apareceu no céu. Havia outras mais tímidas ao longe, mas para ver estas ela teria que virar a cabeça. Ainda no céu, tinham algumas nuvens densas indo pra esquerda. Quando estas passavam na frente da lua, parecia que ela cantava no seu lugar. Suas crateras eram os olhos e as sombras das nuvens, a boca.

Embaixo dela e do banco, grama. Como não tinha luz alguma acesa, o chão estava negro, como um reflexo da noite num lago. O pé de jasmim ao lado do banco estava deixando cair suas flores. Focos de luz na noite.

Com o fim da música, ela ia adormecendo. Seus olhos começaram a pesar e só via metade da lua. Entregou-se ao sono. Dessa vez ela faria algo que não fazia há anos. Ela sonharia.

quarta-feira, 10 de novembro de 2010

Sons e luzes que passam.

O marido saiu faz umas horas e ela resolveu ficar a sua espera. Sentou-se na poltrona verde-musgo tão querida por ele; e calma, por fora, ouviu as badaladas do relógio. Pegou um dos copos que ele usava, de vidro, e o encheu com um líquido que todos diziam fazer relaxar e esquecer os problemas.

A cada zunido de carro passando e fresta de luz que entrava por baixo da porta, ela ansiava que fosse o farol do carro dele e que ele estava saindo, vindo para ela.

Tomou um gole e resolveu andar pela casa, deveria ajudar a fazer o tempo parecer passar mais rápido. Ah, como tudo aquilo lembrava ele: os charutos em cima da mesa, o modo de desorganização ajustada que estes estavam dispostos e principalmente o cheiro: fumo, menta e colônia pós-barba que estavam até nas cortinas. Os chinelos confortáveis embaixo da poltrona que há pouco estava sentada e o jornal mal dobrado no braço desta.

Sabia que com tanta ansiedade não conseguiria dormir, entretanto foi se deitar. Amanhã seria um dia longo e... Quem ela queria enganar? O único motivo que a fez quase correr escada acima foi o som de chaves mais alto que os outros. Não queria que ele chegasse e percebesse que ela, mesmo com o casamento desmoronando, não conseguia ficar em paz enquanto ele não chegasse.

Tinha aprendido um amor diferente com ele, mas não só isso. Aprendera a ter orgulho também. Deitou-se e depressa se cobriu, fechou os olhos. Ouviu-o entrar, trocar de roupa, e não precisava abrir os olhos; tinha certeza que ele estava lá. Mas só conseguiu dormir quando sentiu a presença dele ao seu lado.