
O banco em que eu sentei estava gelado e minhas pernas estavam ficando dormentes. O céu estava cheio de nuvens e elas pareciam estar ao alcance dos dedos, bastaria eu esticar a mão... As folhas das árvores dançavam com o vento e faziam um barulho de arrepiar a espinha. Olhei ao redor e para o relógio. Como sempre, ele estava atrasado.
Havia uma sombra muito parecida com a de uma pessoa no canto da parede. Homem. Parecia muito com um maníaco que não hesitaria em me matar. Ótimo, estava começando a ter devaneios. A solidão faz dessas coisas com qualquer um, ou enlouquece de vez ou faz uma grande viagem a si mesmo. Senti um arrepio na nuca e me virei, lá estava aquele rosto, próximo demais.
"Boa noite", ele disse com um olhar de estranho.
"Atrasado" e entortei a boca.
Olhei para o canto na parede e lá só havia o costumeiro pé de acerola, nada de sombra. Olhei para o céu enquanto ele sentava ao meu lado e as nuvens haviam passado. Agora parecia que tinham jogado purpurina prateada num tecido preto: eram tantas estrelas que nem me atrevi a contar, parecia que o céu estava em festa pela chegada dele.
O rosto do rapaz vinha em direção ao meu.
Não existia mais som das folhas contra o vento, nem nuvens, nem frio, nem sombra. Só eu e ele. O arrepio que eu sentia já não era de frio e sim de felicidade por finalmente tê-lo perto. Não existiam mais monstros prontos para atacar, nem a raiva do atraso. Existiam abraços, beijos e nós difíceis de desatar.