segunda-feira, 11 de abril de 2011

Aniversário alheio.



Passos para lá e para cá no meio da sala, os nós dos dedos já brancos de tanto serem apertados e estalados; a boca se mexe recitando um discurso que nunca está bom o suficiente, só porque é para ele. Ele. É com ele que vai falar e é por isso que precisa que seja perfeito.

E se não for ele a abrir à porta? Qual é a melhor reação? Foi para frente do espelho e começou a ensaiar o que diria se a mãe dele abrisse a porta. Se já estava sem graça de falar com ele, avalie com a mãe. Começo de namoro é sempre assim.

"João está aí?" Não, muito direto, parece que ela não tem educação.
"Bom dia, o João se encontra?" Isso foi tão educado que chega a ser falso. Ninguém é tão educado assim.
“Oi, o João tá aí?" Ótimo, espontâneo e sorridente. Com sorte ele não estará.

Estranho ela escolher algo tão espontaneamente previsto. Chega a ser hilário isso de se preparar tanto para algo que sempre sairá melhor se for espontâneo. Mais hilário ainda é querer fazer algo e torcer pra não ter que fazer. A contrariedade feminina contrasta com sua indecisão certa.

E quando ele aparecer? "Parabéns João, tudo de bom, é só uma lembrancinha". Isso e um sorriso falso. Nada mais sem graça. Nada mais programa do Gugu no domingo.
"Feliz aniversário, João. Muita luz, que Deus te abençoe, muita paz, saúde..." Isso e uma roupa azul com bolinhas brancas e ele pensa que é a avó falando.

Melhor deixar rolar, já são quase quatro e meia e ela está se atrasando. Vai saindo de casa, pede ajuda pra tudo quanto é santo que melhore as ideias. Incrível que quando não se quer, sai um conto, mas um simples Happy Birthday quase a faz arrancar os cabelos. Falando em Happy Birthday, como Marilyn Monroe conseguia cantar isso saindo de um bolo de um modo tão "I don’t care" pro presidente Kennedy, enquanto ela não consegue nem achar uma frase expressiva para seu novo namorado. Não desmerecendo o namorado, claro.

Tocou a campainha da casa e esperou, um minuto parece um dia, uma eternidade. Ai, que exagero. Ele abre a porta. E agora? Não ensaiou pro caso de ele atender a porta, ensaiou pro caso da mãe dele atender e ir chamá-lo. Isso era totalmente diferente. Não deu tempo de pensar no que fazer ou falar.

“Oi, meu amor.”
E veio o abraço, esqueceu o que tinha ensaiado e o que não tinha também, esqueceu até que tinha presente nas mãos. Havia se preocupado tanto com a cereja do bolo que esqueceu que o mais importante, o próprio bolo, o fato de ter lembrado. Porque o que vale é o que importa.

4 comentários:

  1. Vou nem falar quando e com quem isso aconteceu...

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  2. quoto clarissa. rs
    "Chega a ser hilário isso de se preparar tanto para algo que sempre sairá melhor se for espontâneo." muuuito verdade esse trechinho, quem nunca se pegou numa situação dessas né? EOAUHEIUAE

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